O menino corria ofegante. Ele vira uma lebre. Seus dois irmãos e seu pai corriam com ele. Era à tardinha e o sol escaldante estava se pondo. Subiam e desciam as dunas. Em cima de uma delas viram a lebre entrar na toca. Ficaram desolados. Afinal haviam andado o dia inteiro e era a primeira vez em três dias, desde que saíram de casa para a caça, que viram alguma coisa.
O pai olhou no horizonte. A oeste crescia uma tempestade de areia. Como tinham que seguir ao norte resolveram apressar o passo. E assim foram percorrendo sucessivas dunas. De repente, do alto de uma delas viram um bando de salteadores pilhando uma caravana a leste. Ouviram-se tiros. O pai sabendo do perigo que corriam, pois estavam entre uma tempestade que se aproximava e dos salteadores procurou se abrigar.
No deserto, eles procuraram alguma ramagem porque sob elas escondiam pedras que formavam pequenas grutas. Sabiam, portanto, da sua existência mas como o deserto mudava o solo a todo instante era difícil de achar. Entretanto tiveram sorte, pois logo avistaram algo. Os quatro correram então para aquela direção.
Os primeiros ventos da tempestade os alcançaram. Haveria pouco tempo para se abrigarem. Distante ainda, mas vindo na direção deles, a todo galope, os salteadores procuravam se abrigar no mesmo local. O pai ao chegar procurava cavar com as mãos abaixo da maior pedra semi encoberta de areia por uma abertura. E assim, com os quatro juntos cavando conseguiram achar um buraco em que todos cabiam.
Alguns minutos depois, os salteadores chegaram ao mesmo local. O barulho dos cascos sobre as pedras acima do buraco em que estavam assustava o menino. Ele rezava baixinho com os olhos fechados. Dizia para si mesmo que se safasse daquela situação ia fazer de tudo para ir embora daquela terra.
Alguns anos se passaram. O menino virou rapaz. Trabalhava na tenda de um mercador, seu tio, que comprava mercadorias da Índia, Pérsia e de todo o Oriente e as vendia para os comerciantes da Europa. Seu trabalho consistia em servir café e abastecer com fumo o narguile. A tenda era muito grande e as pessoas assentavam sobre almofadas. O chão era forrado de lindos tapetes persas. Em determinados lugares haviam divisões com panos muito brancos. Os panos ficavam expostos pendurados em alguns cavaletes. Haviam ricos tapetes, vários tipos de lãs e tecidos coloridos. Esta era a tenda principal. Em outra tenda ficavam as mercadorias comestíveis como damasco, azeitonas, passas diversas, frutas secas, etc. O tio possuía muitos empregados e muitos camelos para o transporte.
Dos estrangeiros que lá apareciam, o rapaz ouvia atentamente sobre a América. Muitos de seus amigos e mesmos familiares mais velhos que foram para lá, voltavam com muito dinheiro. Ah! A América, suspirava. Eu ainda também vou, dizia para si. Mas como? Não ganhava o suficiente para passagem. Seu pai não tinha condições e seu tio, bem seu tio, queria que ele ficasse com ele.
Um dia ficou sabendo de uma mocinha, filha única. Porque não casar com ela e ganhar o dote? Com isto ele poderia ir à tão querida e almejada América. A América, para eles, era o novo continente descoberto há quinhentos anos. Não importava muito a divisão geopolítica. Era a América, a terra do ouro, do emprego e do dinheiro, da fartura e liberdade, principalmente da religião, enfim, a oportunidade de viver melhor. Estamos falando do pensamento dos sírios e libaneses que emigraram em massa a partir do final do século XVIII até o início do século XX.
Mas como a mocinha era muito nova, ele teve que esperar a noiva fazer 13 anos. Com o dinheiro do dote, viajou para o Brasil. Acabou ficando em Belo Horizonte. Depois de algum tempo mandou buscar a esposa, então com 15 anos. Aqui se tornou comerciante, criou sua família. Trouxe também um dos irmãos que constituiu também uma grande família. Durante sua vida procurou sempre ajudar alguém da “colônia”. Era querido por muitos de seus patrícios. Por seu mérito ganhou o título de Comendador. O “dídi” como gostava de ser chamado, morreu relativamente moço de síncope cardíaca aos 65 anos, em 1967. Tão de repente, sem qualquer enfermidade, que foi um verdadeiro choque para todos.
O menino que virou homem e realizou seu sonho, plantou suas raízes aqui. Seu nome era Nohme Salomão, meu avô materno.
O pai olhou no horizonte. A oeste crescia uma tempestade de areia. Como tinham que seguir ao norte resolveram apressar o passo. E assim foram percorrendo sucessivas dunas. De repente, do alto de uma delas viram um bando de salteadores pilhando uma caravana a leste. Ouviram-se tiros. O pai sabendo do perigo que corriam, pois estavam entre uma tempestade que se aproximava e dos salteadores procurou se abrigar.
No deserto, eles procuraram alguma ramagem porque sob elas escondiam pedras que formavam pequenas grutas. Sabiam, portanto, da sua existência mas como o deserto mudava o solo a todo instante era difícil de achar. Entretanto tiveram sorte, pois logo avistaram algo. Os quatro correram então para aquela direção.
Os primeiros ventos da tempestade os alcançaram. Haveria pouco tempo para se abrigarem. Distante ainda, mas vindo na direção deles, a todo galope, os salteadores procuravam se abrigar no mesmo local. O pai ao chegar procurava cavar com as mãos abaixo da maior pedra semi encoberta de areia por uma abertura. E assim, com os quatro juntos cavando conseguiram achar um buraco em que todos cabiam.
Alguns minutos depois, os salteadores chegaram ao mesmo local. O barulho dos cascos sobre as pedras acima do buraco em que estavam assustava o menino. Ele rezava baixinho com os olhos fechados. Dizia para si mesmo que se safasse daquela situação ia fazer de tudo para ir embora daquela terra.
Alguns anos se passaram. O menino virou rapaz. Trabalhava na tenda de um mercador, seu tio, que comprava mercadorias da Índia, Pérsia e de todo o Oriente e as vendia para os comerciantes da Europa. Seu trabalho consistia em servir café e abastecer com fumo o narguile. A tenda era muito grande e as pessoas assentavam sobre almofadas. O chão era forrado de lindos tapetes persas. Em determinados lugares haviam divisões com panos muito brancos. Os panos ficavam expostos pendurados em alguns cavaletes. Haviam ricos tapetes, vários tipos de lãs e tecidos coloridos. Esta era a tenda principal. Em outra tenda ficavam as mercadorias comestíveis como damasco, azeitonas, passas diversas, frutas secas, etc. O tio possuía muitos empregados e muitos camelos para o transporte.
Dos estrangeiros que lá apareciam, o rapaz ouvia atentamente sobre a América. Muitos de seus amigos e mesmos familiares mais velhos que foram para lá, voltavam com muito dinheiro. Ah! A América, suspirava. Eu ainda também vou, dizia para si. Mas como? Não ganhava o suficiente para passagem. Seu pai não tinha condições e seu tio, bem seu tio, queria que ele ficasse com ele.
Um dia ficou sabendo de uma mocinha, filha única. Porque não casar com ela e ganhar o dote? Com isto ele poderia ir à tão querida e almejada América. A América, para eles, era o novo continente descoberto há quinhentos anos. Não importava muito a divisão geopolítica. Era a América, a terra do ouro, do emprego e do dinheiro, da fartura e liberdade, principalmente da religião, enfim, a oportunidade de viver melhor. Estamos falando do pensamento dos sírios e libaneses que emigraram em massa a partir do final do século XVIII até o início do século XX.
Mas como a mocinha era muito nova, ele teve que esperar a noiva fazer 13 anos. Com o dinheiro do dote, viajou para o Brasil. Acabou ficando em Belo Horizonte. Depois de algum tempo mandou buscar a esposa, então com 15 anos. Aqui se tornou comerciante, criou sua família. Trouxe também um dos irmãos que constituiu também uma grande família. Durante sua vida procurou sempre ajudar alguém da “colônia”. Era querido por muitos de seus patrícios. Por seu mérito ganhou o título de Comendador. O “dídi” como gostava de ser chamado, morreu relativamente moço de síncope cardíaca aos 65 anos, em 1967. Tão de repente, sem qualquer enfermidade, que foi um verdadeiro choque para todos.
O menino que virou homem e realizou seu sonho, plantou suas raízes aqui. Seu nome era Nohme Salomão, meu avô materno.